Baaaaahh
Ah ah ah ah
Há papel para isto tudo?
O aço é duro
O osso é mole
Só sobrou cascalho
O pilim virou pudim
Nem cheta restou
Do restolho ao olho
O cascalho no fogo
E o cão?
ITA Ita ufa UFO
Pizz Buin
No episódio do bezerro de ouro, contado no Livro do Êxodo, manifesta-se a tensão entre poder, representação e matéria, e a coexistência de extremos num mesmo objecto: a criação de imagens e a sua destruição, o visível e o invisível, o material e o imaterial, o animado e o inerte. O bezerro é sagrado não porque representa Deus ou porque é feito de ouro, mas porque é uma imagem divina. A imagem é tão poderosa que concorre com Deus como um seu rival. A sua materialidade consegue tornar visível o que supostamente seria invisível, consegue tornar presente a divindade. É esse paradoxo de concreto e abstracto que caracteriza também a arte.
Uma intervenção Pizz Buiniana nesta história só podia provocar a intrusão de uma gargalhada, uma espécie de glitch na palavra Baal, deus dos cananeus representado como um bezerro. Pizz Buin pode cair na tentação idolátrica, mas fá-lo através de um «iconoclash», um lugar ambíguo de destruição/criação: a imagem pode reinventar-se a si mesma e reproduzir-se como imagem tendo por base a destruição da própria imagem.
Em Baahahal, propõe-se a veneração de uma forma que vive do disforme, um totem de corpos irreconhecíveis. O fogo criador gera neste caso um processo de desdiferenciação, uma regressão a um estádio anterior que permite à matéria transformar-se ela mesma numa outra coisa — um processo de devir-outro que está em permanente acontecimento. Aqui, é a própria obra que instaura um espaço de procura de uma imagem em potência. Uma imagem-que-foi transformada agora numa imagem-ainda-a-ser, ou numa «arte ainda por vir» atingida já pela fúria do impacto da sua aparição.
Liz Vahia
A autora não segue o Acordo Ortográfico em vigor.
Baaaaahh
Ah ah ah ah
Há papel para isto tudo?
O aço é duro
O osso é mole
Só sobrou cascalho
O pilim virou pudim
Nem cheta restou
Do restolho ao olho
O cascalho no fogo
E o cão?
ITA Ita ufa UFO
Pizz Buin
No episódio do bezerro de ouro, contado no Livro do Êxodo, manifesta-se a tensão entre poder, representação e matéria, e a coexistência de extremos num mesmo objecto: a criação de imagens e a sua destruição, o visível e o invisível, o material e o imaterial, o animado e o inerte. O bezerro é sagrado não porque representa Deus ou porque é feito de ouro, mas porque é uma imagem divina. A imagem é tão poderosa que concorre com Deus como um seu rival. A sua materialidade consegue tornar visível o que supostamente seria invisível, consegue tornar presente a divindade. É esse paradoxo de concreto e abstracto que caracteriza também a arte.
Uma intervenção Pizz Buiniana nesta história só podia provocar a intrusão de uma gargalhada, uma espécie de glitch na palavra Baal, deus dos cananeus representado como um bezerro. Pizz Buin pode cair na tentação idolátrica, mas fá-lo através de um «iconoclash», um lugar ambíguo de destruição/criação: a imagem pode reinventar-se a si mesma e reproduzir-se como imagem tendo por base a destruição da própria imagem.
Em Baahahal, propõe-se a veneração de uma forma que vive do disforme, um totem de corpos irreconhecíveis. O fogo criador gera neste caso um processo de desdiferenciação, uma regressão a um estádio anterior que permite à matéria transformar-se ela mesma numa outra coisa — um processo de devir-outro que está em permanente acontecimento. Aqui, é a própria obra que instaura um espaço de procura de uma imagem em potência. Uma imagem-que-foi transformada agora numa imagem-ainda-a-ser, ou numa «arte ainda por vir» atingida já pela fúria do impacto da sua aparição.
Liz Vahia
A autora não segue o Acordo Ortográfico em vigor.
Exposição em colaboração com Guilherme Silva e Miguel Sousa Cardinho.
Organização
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra
Coordenação de produção
Daniel Madeira
Produção
Daniel Madeira
Diana Santos
Assistência à produção
Ivone Antunes
Coordenação de montagem
Jorge das Neves
Montagem
Jorge das Neves
Marco Graça
Fotografia
Jorge das Neves
Texto
Liz Vahia
Revisão
Carina Correia
Tradução
José Roseira
Direção de arte
João Bicker
Joana Monteiro
Design Gráfico
Alexandra Oliveira
Programa Educativo
Jorge Cabrera