Esta Open Call nasce da necessidade de escuta.
Escutar o tempo das coisas, das pedras, dos ciclos, dos silêncios.
Inspirados pela frase «Pensar como uma montanha» («Think Like a Mountain», 1949), ensaio do filósofo ambiental Aldo Leopold, propomos uma reflexão acerca da crise ambiental em que vivemos, não apenas como solução visual para o colapso, mas enquanto investigação de como a arte pode fazer-nos sentir e pensar de outras maneiras, sem precisar de ser literal ou didática.
Neste gesto, aproximamos diferentes pensadores cujos olhares — conceptuais, poéticos, especulativos e sensíveis — oferecem suporte à proposta desta Open Call.
Alberto Carneiro, precursor da arte ecológica em Portugal, rejeita a visão ocidental moderna que separa o ser humano da natureza. No seu manifesto de 1973, Notas para um Manifesto de uma Arte Ecológica, propõe que natureza e humanidade são um só corpo, e que a arte pode ser um caminho para reconectar o ser humano às sensações esquecidas da terra e do tempo.
Essa visão de Alberto Carneiro encontra ressonância e amplificação no pensamento do filósofo e crítico literário Timothy Morton, que no seu livro All art is ecological (2021) radicaliza a ideia de que não existe arte separada do mundo. Para Morton, toda a arte é ecológica, ainda que não trate diretamente de questões ambientais, pois coloca-nos inevitavelmente em relação com aquilo que escapa ao nosso controlo, uma estética do desconcerto, do envolvimento, do sentir. A sua proposta desloca a ecologia do campo temático e inscreve-a como modo de existência e perceção, abrindo espaço para formas de arte que desconstruam a ideia de natureza como algo externo ao humano.
Por fim, desafiando o sentido convencional de humanidade, o líder indígena, filósofo e escritor Ailton Krenak, no seu livro Ideias para adiar o fim do mundo (2019), lembra-nos que o mundo não está a acabar por conta da natureza, mas por causa da ideia de humanidade que se desconectou do planeta, um projeto civilizatório que rompeu laços com a Terra, os sonhos e os outros seres. Adiar o fim do mundo, segundo ele, talvez seja voltar a sonhar coletivamente, como quem planta no escuro.
É nesse campo expandido que o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra convida a comunidade artística a submeter os seus projetos até ao dia 15 de junho. Serão selecionados oito projetos artísticos, que irão coexistir no CAPC Sede no período de 25/10 a 27/12 de 2025.
A participação é gratuita, e os resultados serão comunicados em julho através das nossas redes. Será atribuído um fee de 500 €, bem como um valor máximo de 1000 € para a produção de cada um dos oito projetos selecionados.
CRONOGRAMA
13/05 — Lançamento da Open Call
15/06 — Encerramento das inscrições
15/07 a 30/07 — Anúncio dos selecionados / assinatura do contrato / pagamento do fee para início da produção
01/08 a 30/08 — Produção dos artistas / Férias equipa
01/09 a 05/10 — Produção (continuação)
06/10 a 24/10 — Montagem
25/10 — Abertura da exposição
ANEXOS
Anexo I – Planta do Círculo Sede (download) →
Anexo II – Modelo de Orçamento (download) →
Regulamento da Open Call (download) →