
Na segunda exposição do ciclo Cuidar de um País, dos solos alimentares de Lisboa às linhas móveis da costa da Figueira da Foz, do ar transformado pela descarbonização em Matosinhos ao incêndio que marcou Pedrógão Grande, quatro leituras do território convocam novos modos de cuidado arquitetónico.
Para os curadores de 4 Elementos, o ciclo Cuidar de um País coloca desafios centrais à arquitetura portuguesa contemporânea: «A sua orientação prospetiva implica um cruzamento de investigação e projeto, uma conciliação entre a interrogação do que queremos cuidar e a afirmação do como o fazer.»
E desenvolvem esta ideia afirmando: «Portugal convoca hoje os arquitetos a pensar e a atuar num campo que vai do projeto à investigação, da curadoria ao ativismo, compreendendo abordagens disciplinares e interdisciplinares. Propomos os quatro elementos como focos das tarefas de cuidar de um país, expandindo a práxis a outras ações arquitetónicas para trabalhar o espaço e o território.»
Os quatro elementos clássicos — terra, água, ar e fogo — foram, ao longo da história, matrizes fundamentais de pensamento sobre o mundo e sobre as formas de habitar. Num presente marcado por urgências ecológicas, sociais e territoriais, estes elementos recuperam atualidade enquanto ferramentas conceptuais para repensar a arquitetura e o território. A exposição 4 Elementos convoca este enquadramento para refletir, através de quatro projetos distintos, nas problemáticas urgentes do país.
A TERRA é trabalhada por Mariana Sanchez Salvador, que desenvolve uma investigação cartográfica e um aprofundado trabalho de campo sobre as paisagens alimentares e os sistemas de produção agrícola da área metropolitana de Lisboa. A ÁGUA surge através da proposta de Miguel Figueira, centrada na reposição da deriva litoral na Figueira da Foz, através de um sistema fixo de bypass das areias retidas pelos molhes da barra do Mondego, contribuindo para a proteção costeira. O AR é explorado por Inês Moreira e Joana Rafael, que investigam, de forma performativa e curatorial, as políticas de descarbonização associadas ao encerramento e desmantelamento da Refinaria de Matosinhos. Por fim, o FOGO é abordado pela trabalhar com os 99%/ateliermob, através da reconstrução de casas destruídas nos incêndios de Pedrógão Grande, propondo respostas arquitetónicas de proximidade à catástrofe ecológica e humana vivida na região.
A exposição organiza-se em dois momentos: um primeiro núcleo, entre a entrada e a antecâmara, onde são introduzidos os quatro projetos; e um segundo núcleo, na Sala do Capítulo, que apresenta de forma cronológica os processos de relação autoral e institucional com o território, através de uma estrutura cruciforme que reproduz o diagrama clássico dos quatro elementos. Quatro vídeos suspensos nos cantos da sala — um dedicado a cada elemento —, da autoria da equipa artística de Orlando Franco, Miguel Marquês e Oleksandr Lyashchenko, dialogam com as mesas organizadas pelos participantes. O dispositivo cruciforme reflete, de forma surpreendente, a própria distribuição geográfica dos quatro projetos expostos.